Quando faço um abalanço sobre a minha trajetória cultural, social e política, me deparo com todas as dificuldades que um homem preto e periférico é submetido para mostrar a sua competência dialética e seu acumulo militante para acessar espaços de formulação do pensamento crítico a partir dos espaços acadêmicos. Tenho muito orgulho de ser Sambista, Candomblecista, Sociólogo, Mestre e Doutorando em Mudança Social e Participação Política (EACH – USP), membro do grupo de Estudos Latino Americano sobre Cultura e Comunicação (CELACC – USP), membro do grupo de estudos Griô de Culturas Populares e Educação da Universidade Federal da Bahia – (UFBA), Coordenador executivo da UNAFRO – Universidade Livre de Sociologia e Comunicação Afro-brasileira, autor do livro Casa Verde, uma pequena África paulistana e autor convidado na obra Cultura Política nas Periferias – estratégias de reexistência.
Iniciei minha carreira como músico em 1985, integrando o Grupo “Sem Malícia”. Posteriormente, já com certa experiência, integrou o Grupo “União da Raça”, que gravou seu primeiro disco pela Gravadora Zimbabwe Records.
Integrou o “Clube dos Sambistas de São Paulo”, onde – em virtude de suas constantes buscas por informações sobre o Samba Paulista -, teve a oportunidade de trocá-las com Oswaldinho da Cuíca, Silvio Modesto, Walter Babu, Tiquinho batuqueiro, Seu Nenê da Vila Matilde, Carlão do Peruche e Sr. Miguel Fasanelli (Contemporânea Instrumentos Musicais).
Além de Músico e Pesquisador, canta e conta a história do Samba Paulista e desenvolveu durante cinco anos um trabalho cultural no “Espaço Contemporânea” – situado à Rua General Osório, atualmente conhecida como “Rua do Samba Paulista”.
Sempre preocupado com a propagação do nosso samba, idealizei e fundei o Instituto Cultural Samba Autêntico, que busca congregar os vários movimentos de sambistas em todo o Brasil e assim, juntamente com o “Movimento Cultural Samba na Veia” promoveu um intercâmbio musical e cultural entre as duas cidades através dessa união criou o “Projeto Cultural Terreiros do Brasil” que hoje reúne sambistas de 7 (sete) Estados no Brasil. Além de São Paulo e Rio de Janeiro, agrega Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Paraná e Pernambuco.
Continuando suas andanças pelo Rio de Janeiro, realizou um trabalho de interação com a “Velha Guarda da Portela”, leia-se, Casquinha, Jair do Cavaquinho, Monarco Tia Doca e Surica, em sua sede social; também teve a oportunidade de aprender e trocar experiências em conversas com os grandes sambistas Wilson Moreira e Noca da Portela. Tornou-se parceiro de composição de Ivan Milanez (participação especial em música gravada por Zeca Pagodinho) e integrante da Velha Guarda do Império Serrano.
Sou aluno e súdito do Mestre Miguel Machado, idealizador e fundador do Grupo de Capoeira Cativeiro. Me considero uma pessoa bastante privilegiada por receber os ensinamentos e cosmologias presentes na filosofia de ser capoeira a partir desse lugar de pertencimento de uma das principais rodas de resistência negra no Brasil.
Ao longo da minha trajetória cultural e acadêmica, sempre me preocupei com a manutenção das tradições afro diaspóricas dando aulas, palestras, fazendo rodas de samba, jogando capoeira e prestando consultoria cultural para pesquisas acadêmicas e grupos de estudos sobre educação e cultura afro-brasileira.
Participei das edições do Ecobantu a convite do Tata Nkisi Katuvanjesi (Walmir Damasceno) desde a sua primeira edição. Foi a partir desse ponto que a relação de aquilombamento cultural e político com Walmir Damasceno se iniciou. O Ecobantu surge em 2002, e sua primeira realização ocorre na Biblioteca Mário de Andrade, região central da capital paulista e antecede ao lançamento da Década Internacional de Afrodescendentes, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas – ONU – em 2015. A partir de então, o povo Bantu passou a reunir-se uma vez por ano para sensibilizar o mundo de sua luta contra os preconceitos, a intolerância, a xenofobia e o racismo.
Após diversas atividades realizadas no campo político e cultural em parceria com Pai Walmir, tive a grata oportunidade de estar mais próximo da Comunidade Tradicional de Matriz Centro Africana Terreiro de Candomblé Inzo Tumbansi participando de atividades pontuais, o que me possibilitou reconectar com as minhas raízes afro bantu. Com essa reaproximação, criou-se um ambiente favorável para que eu pudesse iniciar o meu processo de reafricanização a partir da minha iniciação em Nkisi.
Eu não poderia ter sido escolhido por Nkosi para me iniciar em outra casa de Candomblé Angola, pois a familiaridade, o acolhimento e, sobretudo, todo o processo litúrgico a qual fui submetido no meu processo de iniciação formam um conjunto de fatores que, somados, formam os momentos mais importantes e mais aquilombadores que já passei ao longo da minha trajetória cultural, social e política. Me confirmar como filho de Nkosi, sob os cuidados de Tata Nkisi Katuvanjesi, e estar membro da família Ilabantu Inzo Tumbansi me coloca num outro lugar de compreensão acerca dos valores simbólicos, políticos e civilizatórios das três rodas cosmológicas de resistência, preservação e valorização do universo afro bantu brasileiro!
Ase ooo
Um cidadão em defesa da comunidade preta. Suas lutas, suas glórias, suas conquistas não são em vão
. Há um propósito, uma semente, uma raiz!
Que trajetória linda! Que orgulho de ter você como um dos nossos representantes da nossa cultura, da nossa música, da nossa história e agora da nossa religião.
Sou sua fã!
Oi Tadeu.
Parabéns!! Felicidades!
Saúde! Muita aficanidade.
Nosso passado e parte importante do nosso futuro!!
Texto obrigatório para compreender não só tua trajetória , mas também parte significativa e a reconhecer da importância cultural afro na sociedade brasileira!!
Parabéns meu querido irmão Tadeu Kaçula! A sua história é de resistência, criatividade e sabedoria. Sua trajetória valoriza e honra as heranças ancestrais presentes em seu corpo memorial. Saudações ao seu Mutuê. Saudações ao Nkisi que está sempre contigo. Saudações ao querido irmão Tata Katuvanjesi. Muitas bênçãos nobre Tata Kambandu. Nguzu!